O que realmente te faz feliz? Reflexões sobre felicidade e desejo.

A resposta parece óbvia: queremos a realização de todos os nossos desejos. Mas, será que a satisfação total é possível aos seres humanos? Freud dizia que o desejo se instala em nós quando muito pequenos, ainda bebês, quando, por exemplo, o bebê é saciado pela primeira vez na amamentação. A experiência fica registrada na sua memória em formação, gerando o protótipo do desejo. 

Por outro lado, como somos seres falantes, a linguagem, nos esclarece Lacan, entra como complicador nessa busca incessante pela satisfação. A  linguagem instala uma diferença entre o nome e a coisa nomeada como objeto da nossa satisfação. Ou seja, como afirma um ditado Zen-budista, o dedo que aponta para a lua não é a própria lua. Em consequência, o ser humano é separado de si mesmo pela própria linguagem. Ele não tem acesso a experiências de satisfação pura ou total.  

Desde pequenos somos confrontados com esta verdade: aquilo que desejamos nunca nos satisfaz por completo. Há sempre uma diferença entre o desejado e o obtido – falta alguma coisa… 

Costumamos fantasiar que a felicidade advém de ter tudo o que queremos. Mas o que aconteceria se tivéssemos exatamente tudo o que desejamos? Por exemplo, caso eu tivesse absolutamente tudo o que quero, se nada me faltasse, será que haveria motivo para fazer qualquer coisa? Em bom português: o que me faria levantar da cama pela manhã? Em suma, eu deixaria de existir como sujeito, isso equivaleria à própria morte. 

A psicanálise traz a proposta de perceber que vale mais usufruir de prazeres parciais originados pelo desejo, do que viver em sofrimento e angústia perante a impossibilidade de atingir a felicidade total. Não significa dizer que o ser humano não possa ser feliz. Pelo contrário, trata-se apenas de reconhecer que a felicidade possível não é aquela da idealização, da fantasia, pois problemas e insatisfações sempre vão existir para quem está vivo. 

Nesse sentido, ser feliz envolve conseguir aproveitar as pequenas e grandes satisfações do dia-a-dia e, também, lidar produtivamente com as insatisfações, pois estas abrem espaço para o desejo de realizações futuras. E para você, o que realmente te faz feliz?

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