A descoberta de que vivemos sob influência de fantasias inconscientes, a cada momento de nossas vidas, é eminentemente psicanalítica. De Freud a Lacan, a psicanálise demonstra que a realidade material, ou dita objetiva, não é exatamente comum para todos: cada qual estabelece uma relação com o mundo e com os outros por meio de fantasias particulares. À noite, encenamos nossas fantasias sob formas distorcidas nos sonhos e, à luz do dia, sob o feitio de devaneios. No prisma psicanalítico, portanto, é coerente dizer que essas cenas governam nossas vidas sem que delas tenhamos consciência — o sujeito constitui sua realidade a partir da fantasia.
Qual a função da fantasia em nosso psiquismo? Há muitas leituras possíveis. Em recente artigo, Marlos Terêncio aborda essa questão a partir do próprio interesse de Lacan pela tela do pintor surrealista belga René Magritte, “A condição humana” (1933).
A condição humana de Magritte intitula uma série de pinturas e desenhos com o mesmo motivo principal: um cavalete e um quadro colocados defronte de alguma paisagem, criando uma aparente igualdade ou continuação entre o mundo exterior e a sua representação.
Lacan referiu-se a essa tela como uma metáfora para o funcionamento de nossa fantasia. A fantasia seria análoga a um quadro colocado defronte a uma janela. Para ele, “Seja qual for o encanto do que está pintado na tela, trata-se de não ver o que se vê pela janela” (1962-63/2005, p. 85).
O que a tela de nossa fantasia trata de evitar? Sugerimos algumas leituras sobre o tema em artigo publicado na Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (vol. 26, 2023).
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