O surrealismo vivo no cinema de Švankmajer

O surrealismo é só mais uma página na história da arte ou continua vivo, pulsante? A filmografia de Jan Švankmajer nos faz ter certeza da segunda opção. Poucas obras são capazes de um efeito tão curioso, estranho e perturbador como aquelas deste artista tcheco, unindo singularmente surrealismo e arte fantástica, e circulando por gêneros diversos como drama, fantasia, terror e comédia.

Seus filmes têm como marca um misto de gravações com atores reais (“live action”) e animações em “stop-motion”, a partir de figuras e marionetes em madeira e argila, e recortes bidimensionais. No conjunto, forma-se uma iconografia inusitada e bizarra. A atmosfera das histórias geralmente tem tons sombrios mas, ao mesmo tempo, uma certa leveza e comicidade. Não por acaso, é conhecido por ter inspirado cineastas de peso como Terry Gilliam e Tim Burton.

Algumas obras abordam assuntos polêmicos no campo da moralidade e fazem ácidas críticas sociais. Trazem, também, influências certas da psicanálise e versam sobre temas caros à clínica e à teoria psicanalítica, como a questão do fetichismo (“Conspirators of pleasure”, 1996), das fantasias neuróticas (“Surviving life”, 2010) e da loucura e seus tratamentos (“Lunacy”, 2005).

Acima de tudo, o que o artista parece propor é uma grande celebração da criatividade e da imaginação. Pelo conjunto da sua obra, já recebeu 38 prêmios e 20 indicações.

É dito que Svankmajer é membro do Grupo Surrealista Tcheco. O grupo, que nasceu nos anos 30 e teve como um de seus fundadores o autor do romance “Valerie and her week of wonders”, publica, desde 1969, a revista “Analogon”, dedicada ao “surrealismo, psicanálise, antropologia e ciências transversais”. Isso parece demonstrar que esse movimento artístico (e sua valorização da psicanálise), ao menos naquele país, continua firme e forte.

Em todo caso, seria ele, então, o último grande surrealista vivo?

Texto originalmente publicado no Instagram

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