Para a psicanálise, os atos falhos são uma das formações do inconsciente, ou seja, são uma forma de expressão do inconsciente na vida psíquica que se efetiva por meio de um acordo entre o Eu e o conteúdo reprimido/recalcado (veja post anterior).
Freud nos dá um exemplo de situação autobiográfica que ilustra muito bem as características do ato falho: “Em anos anteriores, quando eu visitava o paciente a domicílio com maior frequência que hoje, ocorria-me muitas vezes, ante a porta em que eu deveria bater ou tocar a campainha, tirar do bolso as chaves da minha própria casa e, logo em seguida, tornar a guardá-las, quase envergonhado. Quando considero os pacientes em cujas casas isso acontecia, sou forçado a supor que esse ato falho – apanhar minha chave em vez de tocar a campainha – tinha o sentido de uma homenagem à casa onde eu cometia esse erro. Era equivalente ao pensamento: ‘Aqui me sinto em casa’, pois só ocorria em lugares onde eu me havia afeiçoado ao doente (É óbvio que não toco a campainha da minha própria casa)” (1907).
Como no exemplo acima, o ato falho pode ser considerado um “erro” do ponto de vista da vida consciente, mas é, na verdade, ao mesmo tempo, um “acerto” do ponto de vista do desejo inconsciente. Por isso mesmo, há psicanalistas que o chamam, jocosamente, de “ato verdadeiro”.
Tal como os sonhos, os atos falhos são ótimos meios de acesso ao inconsciente em um processo de análise. Lembrando que é sempre necessário interpretá-lo, a partir do conteúdo manifesto (o ato falho em si), para chegar ao conteúdo latente (o desejo inconsciente).
Alguns tipos de atos falhos e seus exemplos:
Atos falhos na linguagem: envolvem fala, escrita e/ou leitura. Exemplo: Falar o nome de uma pessoa ao invés de outra, escrever uma mensagem e enviar para a pessoa errada, ler uma palavra ao invés de outra.
Atos falhos de esquecimento: envolvem falhas na memória. Um exemplo comum é quando esquecemos de ligar para alguém; não ir a um lugar que combinamos de ir; esquecer um nome; esquecer um objeto pessoal na casa de alguém, etc.
Atos falhos no comportamento: cair, quebrar, derrubar, tropeçar, isto é, perturbações do controle motor em geral.
Ficou interessado em saber mais sobre o assunto? Sugerimos a leitura do texto de Freud intitulado “Sobre a psicopatologia da vida cotidiana”, de 1907.