É inegável que a farmacologia tem avançado bastante na descoberta e produção de substâncias com efeito significativo sobre o psiquismo, os chamados medicamentos psicotrópicos. Vamos aqui tomar o exemplo dos ansiolíticos modernos que atingiram ampla popularidade nos dias atuais.
A questão que trazemos para reflexão é simples: se os medicamentos atuais são tão eficazes para aplacar a ansiedade, há ainda alguma necessidade de ficarmos ansiosos? Ou seja, ficar ansioso para quê?
Inicialmente, cabe dizer que preferimos usar o termo angústia no lugar de ansiedade, pois a angústia, por definição, captura melhor aquilo que as pessoas realmente sentem nesse estado: a sensação de desamparo, o aperto no peito, a palpitação, a sudorese, a dificuldade de respiração, etc.
Constatamos na clínica que a angústia é um sinal de perigo, um alerta de que algo não vai bem com o sujeito. Sabemos que os sinais são muito importantes na vida. De que forma o bombeiro pode descobrir e localizar um incêndio se não antes enxergar o sinal de fumaça? Da mesma forma, o analista orienta grande parte do tratamento por meio deste sinal psíquico chamado angústia.
Assim, respondemos desde já a pergunta inicial afirmando que a angústia cumpre uma função de sinal e, portanto, ela não somente é útil ao tratamento analítico como, em certo grau, até necessária. Devemos lembrar que, segundo a psicanálise, o desejo e a angústia são faces de uma mesma moeda. Por conseguinte, quem tenta suprimir sua angústia acaba apagando junto o seu desejo. Em bom português: “joga-se fora o bebê junto com a água de banho”.
Deste modo, o grande problema de se recorrer somente ao medicamento ansiolítico é que ele suprime esse sinal importante de perigo sem tratar realmente daquilo que o causa. Em outras palavras, o sintoma é suprimido ao preço de gerar, muitas vezes, uma espécie de “anestesia psíquica”. Neste sentido, no tratamento da angústia, a aposta psicanalítica é aprender com ela (ao contrário de evitá-la), ou seja, observar o que de fato ela sinaliza e atravessá-la para chegar à dimensão do desejo de viver.